Melros, sapos, rabirruivos, poupas, toupeiras, alvéolas-brancas, nenúfares, dedaleiras, choupos, medronheiros, mentas, chapins ou líquenes. Estas foram algumas das 163 espécies identificadas por várias dezenas de pessoas, durante uma manhã, no parque desportivo da Rodovia e na vizinha ecovia do rio Este, em Braga. Chamada “Bioblitz”, a iniciativa partiu da Escola de Ciências da Universidade do Minho (ECUM) e desafiou o público a encontrar espécies vivas naqueles locais. Tratou-se do primeiro evento em Braga a antecipar a Noite Europeia dos Investigadores, que se realiza a 29 de setembro em toda a Europa.
No total, registou-se 384 observações na aplicação online iNaturalist, onde é possível ver agora as fotos tiradas pelos participantes e a fauna e flora elencadas. “Correu muito bem, com pessoas e famílias curiosas, em especial as crianças, muito entusiasmadas e a quererem ‘carregar’ espécies na aplicação, desde aves, peixes, répteis, batráquios, insetos, líquenes e plantas. Se o sol tivesse aparecido, haveria mais insetos, como as borboletas”, assinalou Alexandra Nobre, professora do Departamento de Biologia da ECUM. O “Bioblitz” juntou naturalistas, cientistas e cidadãos, promovendo a “ciência cidadã” e momentos de convívio em prol da conservação da biodiversidade, da gestão ambiental e de decisões políticas informadas.
PAIS, FILHOS E AVÓS Á DESCOBERTA
A chuva miudinha não impediu os participantes de andarem de telemóvel ou máquina fotográfica na mão à procura das espécies. Sem saber o que iam encontrar, jovens e menos jovens deixaram-se por vezes conduzir pelos elementos da ECUM e tiraram fotos ao que iam encontrando, descarregando-as com o respetivo local e hora e identificando as espécies. “Encontrei insetos e plantas. Na edição de 2022, no campus de Gualtar, só identifiquei plantas”, disse Alice Afonso, com 11 anos e o sonho do curso de Biologia. A seu lado seguiam o pai, a mãe, a irmã e o avô. “É a segunda vez que participamos e as miúdas gostam”, avançou a mãe Marta, professora. O avô Agostinho não deixava escapar nenhuma espécie. “Gosto de tudo o que tem a ver com natureza. Só fiz a quarta classe, mas tenho a experiência de vida”, assegurou o vimaranense de 82 anos.
MUNICIPIO ALIA-SE
O “Bioblitz” tem a colaboração do Município de Braga, que se fez representar pelo vereador do Ambiente e Alterações Climáticas. Altino Bessa considerou a iniciativa “muito positiva” e destacou as intervenções da autarquia na última década para melhorar a qualidade da água e o repovoamento do rio Este. “Havia grandes agentes poluidores e temos vindo a ‘degolar’ essas descargas”, disse, lembrando que em torno da área onde decorreu o “Bioblitz” “vivem mais de 100 mil pessoas e há indústrias, empresas e restaurantes”.
O município está também a cadastrar a rede de águas pluviais na envolvente do rio para identificar ligações irregulares. Desenvolve ainda um projeto de renaturalização do Este, tendo já efetuado um repovoamento com duas mil trutas. “Precisamos de mais corredores verdes e galeria ripícola, para aumentar a biodiversidade e para o aparecimento de espécies como a lontra, que não era avistada desde 2016”, concluiu Altino Bessa.