Prémio Rodrigues Sampaio ao historiador António Borges Coelho
A cerimónia de entrega do Prémio Rodrigues Sampaio ao historiador António Borges Coelho. Instituído pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto e patrocinado pela Câmara Municipal de Esposende decorreu o dia 14, este galardão distingue personalidades que, pelo seu trabalho nas áreas da cultura e da comunicação social, contribuam para uma sociedade mais inclusiva e mais crítica. Devido a doença, foi a filha do galardoado, Sónia Borges Coelho quem recebeu o prémio.
Numa cerimónia que iniciou com declamação do poema de António Borges Coelho “Até Logo (à Isaura)”, por Adriano Lima e Diogo Zão, o presidente da Câmara Municipal de Esposende, Benjamim Pereira, vincou que este prémio representa, nos tempos atuais, “um importante veículo de defesa da democracia”.
Quanto à atribuição do prémio Rodrigues Sampaio ao Professor Borges Coelho, Benjamim Pereira destaca a singularidade da vida destes dois homens. “Os dois combatentes pela liberdade, os dois conheceram a prisão na luta pela liberdade de expressão, os dois nunca se curvaram aos poderes instituídos em face da defesa dos valores que tão afincadamente defendiam. Se Rodrigues Sampaio foi um dos grandes construtores do liberalismo parlamentar do seculo XIX, António Borges Coelho foi, no século XX, um dos maiores vultos da resistência ao antigo regime, contribuindo com a sua vida e obra para a consolidação da democracia como hoje a conhecemos”.
Benjamim Pereira felicitou o professor Borges Coelho que, nas palavras do júri, “é uma personalidade ímpar da cultura e da cidadania, autor de inovadora e vasta obra no domínio da História, mas também poeta luminoso”.
José Manuel Mendes, em representação do júri, destacou “a dimensão invulgar do historiador e o cidadão que, desde muito cedo, se opôs ao fascismo e que, por isso, sofreu consequências como a prisão. Mas isso não impediu que tivesse atitude criativa permanente que se exprime nos seus muitos poemas e textos, ao longo dos largos decénios do seu ministério”.
Francisco Duarte Mangas, Presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, entende que o Prémio Rodrigues Sampaio “pretende manter vivo o nome de Rodrigues Sampaio, que muito honrado ficaria com a homenagem do Município de Esposende e da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, ao distinguir António Borges Coelho, homem de límpida consciência”.
Sónia Borges Coelho, filha e em representação de António Borges Coelho, leu uma mensagem do homenageado, na qual eram lembrados os conturbados tempos de perseguição política, nomeadamente os conselhos de Óscar Lopes, incentivando à leitura de Fernando Pessoa que classificou como “palavras abençoadas”.
O Prémio Rodrigues Sampaio foi instituído nos anos cinquenta do século XX pela Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (da qual António Rodrigues Sampaio é patrono), com o apoio da Fundação Gulbenkian, tendo sido suspenso na década de oitenta, por falta de apoio. O Município de Esposende associa-se a este prémio bienal com o montante de 7.500 euros.
O júri desta nova edição do prémio Rodrigues Sampaio foi constituído pelo presidente da Câmara Municipal de Esposende, Benjamim Pereira, por Francisco Duarte Mangas, presidente da Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores, Inês Cardoso, diretora do Jornal de Notícias e Valdemar Cruz, jornalista do Expresso.
O historiador e investigador António Borges Coelho, vencedor do prémio Rodrigues Sampaio nasceu em Murça, Trás-os-Montes, em 1928. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1967, e doutorou-se em 1984, na mesma instituição. A sua tese de doutoramento analisou a Inquisição Eborense e desenvolveu trabalhos investigativos, relativamente à Ocupação Muçulmana na Península Ibérica, publicou obras incidentes em episódios decorridos desde a Idade Média, (A Revolução de 1383, 1965), à Idade Contemporânea, (O 25 de Abril e o Problema da Independência Portuguesa, 1975).
Autor consagrado de muitas obras de referência da História e Cultura como Raízes da Expansão Portuguesa (1964); A Revolução de 1383 (1965); Questionar a História (1983); A Inquisição em Évora (1987); História de Portugal, 7 volumes (2010 - 2022).
Ao nível da literatura, António Borges Coelho escreveu também algumas obras como Roseira verde (1962), Ponte Submersa (1969), No mar oceano (1981) e O Príncipe Perfeito (1991).
Na sua juventude foi membro da oposição ao regime do Estado Novo, integrou o Movimento de Unidade Democrática Juvenil e foi funcionário do Partido Comunista Português, do qual se desfiliaria em 1991, consequência da Dissolução da União Soviética. Na luta contra o Estado Novo foi preso político, na Prisão de Aljube e na Prisão de Peniche.
Foi jornalista a partir de 1968, sendo um dos cofundadores de A Capital e colaborou com o Diário de Lisboa, o Diário Popular e com as revistas Seara Nova e Vértice. Contudo, foi na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde exerceu as suas principais funções e cargos académicos: Professor Catedrático de História, membro do júri de diversas provas de Mestrado e de Doutoramento e Presidente do Concelho Pedagógico. Foi também Diretor do Centro de História da Universidade de Lisboa e Diretor da revista História e Sociedade.
António Borges Coelho jubilou-se em 1988, dando a sua última lição a 11 de dezembro do mesmo ano. Foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago e com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade em 2019.
Rodrigues Sampaio (1806-1882) destacou-se como figura do jornalismo e dos liberais oitocentistas. Nasceu em S. Bartolomeu do Mar, Esposende e sofreu diversas perseguições e tentativas de mordaça, mas nunca impeditivo de prosseguir o combate contra a censura. Na clandestinidade, durante um ano, fez circular o jornal O Espectro. O “Sampaio da Revolução”, como ficara conhecido o redator de A Revolução de Setembro, foi também presidente do conselho de ministros, ministro de Estado honorário, conselheiro do Tribunal de Contas, deputado da nação e par do reino. Rodrigues Sampaio pautou a sua atividade política de forma desinteressada, com honestidade, sem jamais esquecer a importância da liberdade.