Em Carrazeda de Ansiães folia carnavalesca encerra com rebentamento do 'Pai da Fartura'

Carnaval em Carrazeda.

A sátira social é a tónica dominante do Carnaval de Carrazeda de Ansiães que, ao final do dia, julga e rebenta o “Pai da Fartura”. As atividades, promovidas pela Câmara Municipal, são organizadas em parceria com os Zíngaros de Carrazeda de Ansiães.

É como se por um dia a comunidade local “expurgasse” todo o descontentamento, usando a sátira social para apresentar publicamente os motivos de insatisfação e discórdia.

Durante a tarde do dia de Carnaval, que este ano acontece a 21 de fevereiro, mais de 20 tratores cujos atrelados são transformados em carros alegóricos, integram o cortejo carnavalesco que acontece na vila de Carrazeda de Ansiães, aos quais se juntam os Zíngaros e outras associações locais com gigantones, cabeçudos e músicos. Os carros representam aldeias ou associações locais, que aproveitam o desfile pela sede de concelho para ironizar com as políticas, locais nacionais ou europeias, que marcam a atualidade. “Como é Carnaval ninguém leva a mal”, as mensagens vão passando e as alfinetadas deixadas sem dó nem piedade. 

Mas é ao início da noite que o espetáculo “aquece”. O povo arrasta o “Pai da Fartura”, o responsável pelos excessos, pelas mentiras e enganos, para um julgamento, junto ao Pelourinho da vila. Primeiro ouvem-se as lamúrias de uma figura que de antemão se sabe vai ser condenada. Depois a sentença, extensa e encenada pelos Zíngaros de Carrazeda de Ansiães, que expõe as políticas ou falta delas, que interferem diretamente com a vida dos cidadãos e causam a contestação. Versos satíricos são lidos a alta voz, provocando riso e aplausos na comunidade, que acorre em massa para assistir ao evento.

A sentença já está (antecipadamente) decidida: pena de morte.

O método também: rebentamento do “Pai da Fartura”.

Não há recurso possível, as “esposas” do “pai da fartura”, que em breve serão viúvas, choram aos gritos, e vão carpindo durante todo o cortejo fúnebre, ao som dos tomares que marcam o compasso da marcha e das sirenes dos carros dos bombeiros.

Literalmente o “pai da fartura” é explodido, desfeito em pó.

Os festejos seguintes já são comedidos, até porque o “pai da fartura” já se foi.

Apesar de se tratar de uma festa pagã, por vezes até com pitadas satânicas, este momento representa o fim de um ciclo, de fartura e de folia, e o início do período de Quaresma que, seguindo a religião católica, representa sacrifícios, jejum, abstinência, recolhimento e oração.