UMinho evoca musicóloga e ativista Francine Benoît
O Edifício dos Congregados da Universidade do Minho, no centro de Braga, acolhe até 10 de janeiro a exposição "Crítica musical de Francine Benoît", a luso-francesa que marcou a cultura musical e o ativismo no Portugal do século XX. O Salão Nobre daquele edifício recebe ainda a 4 de janeiro, pelas 17h30, uma palestra alusiva pela investigadora Helena Lopes Braga, da Universidade Nova de Lisboa, incluindo no final três canções de Benoît interpretadas pelas alunas Sandra Azevedo (voz) e Maria João Gomes (piano).
As iniciativas, de entrada livre, são promovidas pelo Departamento de Música da UMinho, através dos docentes Pedro Junqueira Maia e Vera Fonte e com a colaboração de estudantes de Ciências Musicais. Têm também o apoio da Casa do Professor e inserem-se no projeto internacional "Musical Bounce Back”, que promove o papel das mulheres na música e em novas pedagogias.
Nos claustros dos Congregados estão em exibição 25 crónicas na imprensa, em grande formato, que Francine Benoît escreveu nas décadas de 1920-30. Só no influente “Diário de Lisboa” teve mais de 500 artigos, algo notável para uma mulher na época. Entre os temas, focou os concertos nacionais do centenário de Schubert, da “5.ª Sinfonia” de Beethoven e de Guilhermina Suggia, mas também falou de música nas escolas, do género erudito e de arte. Já no 1.º andar do edifício, os 15 escaparates guardam outros artigos da homenageada numa dezena de jornais e revistas, além de diversos manuscritos e partituras suas, textos datilografados para conferências, apontamentos pessoais, entrevistas e livros.
UMA VOZ CONTRA A DITDURA
A musicóloga, compositora e professora Francine Benoît (1894-1990) nasceu em França e fixou-se em Lisboa aos 12 anos. Colega dos compositores Lopes Graça e Freitas Branco, despontou com as suas crónicas e peças, que educaram o gosto musical dos portugueses há um século. O meio era dominado por homens e as mulheres que abordavam música eram associadas a uma prática privada, amadora e para distração.
Benoît soube impor-se e, em plena ditadura, defendeu também os direitos das mulheres, a homossexualidade e opôs-se ao fascismo, ao lado das ativistas Maria Lamas, Irene Lisboa ou Alice Ogando. Foi uma das primeiras mulheres no Movimento de Unidade Democrática e fez parte do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas e da Associação Feminina Portuguesa para a Paz, que o Estado Novo quis silenciar.